História de Salvador - parte 11 - Patrimônios Culturais
Published on 2020-12-30 | Archived on 2024-02-08
Salvador é particularmente rica em manifestações culturais, que incluem festas, culinária, celebrações religiosas, folclore e tantos outros modos de identificação. A seguir, algumas delas:
O tabuleiro da baiana
Senhores e senhoras empobrecidos mandavam suas escravas vender bolinhos em tabuleiros como
forma de sustentá-los. Assim, muitas africanas retomavam prática ancestral na costa da África
Ocidental, onde mulheres se tornavam independentes por esse ofício comercial.
Hoje, há mais dois mil filiados à Associação das Baianas de Acarajé e Mingau da Bahia, a grande
maioria composta por mulheres. Mais de 70% delas são chefes de família, responsáveis exclusivas
pelo sustento de suas casas.
Em 15 de agosto de 2005, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN –
reconheceu o ofício das baianas do acarajé como patrimônio cultural do Brasil. Antes tarde do que
nunca, pois é uma das atividades mais típicas do país. Os quitutes têm funções de oferendas
religiosas. Os bolinhos maiores são para Xangô, os menores para Iansã e Oxum.
O acarajé é uma adaptação afro-brasileira de um bolinho árabe. Milenar, o falafel, como é
conhecido, é o acarajé feito com favas moídas ou grão-de-bico como ingrediente básico da massa.
Aqui, é o feijão fradinho, que não era utilizado na África para esse fim.
Quanto à origem da palavra, vem do iorubá akará (bola de fogo) + jé (comer). Não confundir com o
acará, também presente no tabuleiro de algumas baianas. O recheio do acarajé, composto de vatapá,
caruru, molho de pimenta, tomate picado e camarão defumado, também é incorporação brasileira à
iguaria árabe, conhecida na África há mais de mil anos por conta da penetração da pregação
islâmica.
Recentemente, o falafel também esteve envolvido em uma polêmica étnica-religiosa em Israel e no
Líbano. O bolinho tornou-se popular entre os habitantes do estado judeu para revolta dos libaneses,
que não gostam de ver o inimigo saborear um prato tido como legitimamente libanês. Bem, os
egípcios igualmente não concordam, mas é com os libaneses, pois o falafel, na verdade, seria
invenção dos coptas, cristãos egípcios. Até onde o registro escrito alcança, a receita é mesmo árabe,
ou, pelo menos, foi difundida pelos árabes até chegar à Bahia, passando pelos iorubás no caminho.
No tabuleiro também tem abará, lelê, queijada, passarinha, bolo de estudante e cocada. Com
receitas que misturam heranças portuguesas, africanas e indígenas, a culinária dos tabuleiros, ao
contrário do que ocorre nas redes de fast food, é baiana, sim senhor, uma manifestação cultural que
muito orgulha seu povo, pois não é todo lugar que tem comidas típicas, quanto mais várias delas.
Mais importante do que a comida em si é a forma de comercialização. Quando o modelo de redes e
a padronização internacional dos restaurantes e lanchonetes impera e se espalha cada vez mais,
seguimos mantendo a tradição dos pontos de rua, do serviço pessoal, geralmente pela proprietária
do tabuleiro. Isso muito agrada o turista, que registra com encantamento a manutenção da tradição
histórica. A venda de quitutes em feiras e passeios públicos, porém, não é uma exclusividade
baiana. Quase todas as culturas já a experimentaram ou ainda a experimentam. O que é especial da
Bahia é o ofício das baianas, seus trajes típicos, sua forma de atuação, daí o reconhecimento como
patrimônio cultural.
Festas populares
Se no quadro religioso atual de Salvador abrigam-se diversas denominações e práticas, o antigo
catolicismo não abrigava menor diversidade, expressa nas devoções particulares, algumas delas
oficiais, outras apenas toleradas. Dessas devoções nasceram as tradicionais festas de largo e, por
sincretismo, rituais de inspiração africana, como as lavagens.
O calendário de festas populares, de raízes antigas e profundas nas devoções religiosas e festejos
profanos, é o mais repleto do país, com folga. A seguir, alguns da lista:
• Procissão do Senhor Bom Jesus dos Navegantes (1º de janeiro), marítima, na baía de Todos os
Santos.
• Festa dos Reis (5 e 6 de janeiro), na Lapinha, com festa de largo.
• Senhor do Bonfim (janeiro), festa, cortejo e lavagem, os dois últimos separados da primeira.
• Festa de São Lázaro (Omulu), realizada no último domingo de janeiro, na igreja própria, na
Federação.
• Iemanjá (2 de fevereiro), no Rio Vermelho.
• Lavagem de Itapuã (12 de fevereiro), com cortejo, batucadas e blocos.
• Festa de São Roque e Obaluaê (16 de agosto), na igreja de São Lázaro, Federação, com procissão.
• São Cosme e São Damião (27 de setembro).
• Festa de Santa Bárbara (4 de dezembro), na igreja do Rosário dos Pretos, Centro Histórico, com
festa de largo no Mercado de Santa Bárbara.
• Nossa Senhora da Conceição da Praia (8 de dezembro – feriado municipal), com missas, procissão
e festa de largo.
• Santa Luzia (13 de dezembro), festa de largo em Salvador, Itaparica e Simões Filho.